Mesmo assim, era
necessário uma maneira mais eficiente para se fazer o carregamento do minério
nos navios e como a CBMS não dispunha de recursos para construir a linha e as
instalações previstas para o porto de Santa Cruz, a solução foi encontrar uma
área para silos de transbordo dentro da própria baía de Vitória.
A CBMS planejou
então um cais de minério junto ao morro do Atalaia, no município de Vila Velha,
do outro lado da baía e em frente ao porto do Vitória, permitindo que os trens
pudessem ser descarregados por gravidade diretamente sobre u grande silo de
armazenamento de onde o minério seria levado até os navios por meio de correias
transportadoras.
Por um acordo
celebrado entre a CBMS e o Governo do Espírito Santo em junho de 1941, este
ficava como proprietário e responsável pelas obras do cais e do silo de
armazenamento, enquanto a CBMS providenciava a construção do ramal de acesso,
que começava no pátio da estação de Pedro Nolasco e seguia pelas encostas do
morro do Paul até fazer uma volta completa em torno do morro do Atalaia.
O projeto do
cais de minério da EFVM na baía de Vitória foi uma das obras de engenharia mais
interessantes no Brasil da primeira metade do século XX, e um justo tributo à
imaginação e à capacidade empreendedora de Percival Farqhuar.
Tivesse ele
renunciado antes aos inúmeros privilégios que pretendia, feito a remodelação da
EFVM e garantindo o tráfego público nas suas linhas, certamente estaria
colhendo lucros sem precedentes com o agravamento da guerra na Europa e na
África, além de se colocar novamente como um dos homens mais poderosos e
influentes do Brasil, face à oposição estratégica da Itabira Iron e da EFVM
para o suprimento de minério de ferro para a Inglaterra e os Estados Unidos.
Estimulado pelo
modesto sucesso das exportações de minério feitas em 1940, Farqhuar preparou
vários projetos para remodelação e reaparelhamento da EFVM visando várias metas
para o transporte de 1 milhão a 1,5 milhões de toneladas anuais já para o ano
de 1941.
O principal
problema ainda a resolver era a obtenção dos empréstimos necessários nos
Estados Unidos, onde o crédito já estava restrito, face ao indisfarçável estado
de beligerância com os países do Eixo.
Para pressionar
os países da América do Sul, e, sobretudo o Brasil, a não manter relações
comerciais com os países do Eixo, o Governo americano publicou em junho de 1941
uma lista de empresas com capital ou acionista majoritários da Itália ou
Alemanha, com as quais ficava proibido a manutenção de negócios por qualquer
empresa ou bancos americanos.
Com a guerra
prestes a se alastrar pela Ásia e o Atlântico Sul, Farqhuar ainda conseguiu
negociar com a Itabira Iron uma opção de arrendamento das minas por 25 anos,
incluindo novamente a possibilidade da compra de todas as propriedades da
Itabira Iron no Brasil ao término deste período.
De posse desta
opção, Farqhuar organizou no Brasil a Companhia Itabira de Mineração em
dezembro de 1941, propondo que seus acionistas adquirissem a opção negociada
por ele uma indenização de quase 1,5 milhões de dólares pelas despesas e
compromissos com os projetos acumulados desde 1919.
Para
facilitar negociação, Farqhuar propôs
que o pagamento fosse feito sob a forma de ações preferenciais e debentures sem
direito a voto, na esperança de que o empreendimento ainda tivesse um grande e
lucrativo futuro pela frente.
Na verdade a
Companhia Itabira de Mineração não chegaria a operar plenamente, já que sua
atuação acabou sendo prejudicada, ironicamente, pelos acontecimentos políticos
agravados pela entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial.
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