quarta-feira, 5 de abril de 2017

A EFVM E A ITABIRA IRON: SEGUNDA FASE (1919-1939) - PARTE 2

O Governo de Minas, mais uma vez vinha acompanhando estas negociações, decretando o seu Presidente – Arthur Bernardes – em setembro de 1919, uma nova lei que reduzia substancialmente o imposto de exportação de minério de ferro por um prazo de vinte anos, caso a empresas mineradoras estabelecessem usinas siderúrgicas no Estado.
O plano de Farqhuar foi redigido sob a forma de um contrato e assinado às pressas entre a Itabira Iron e Governo Federal em 29 de maio de 1920. O Governo de Minas chegara a ser consultado sobre o contrato previamente, mas antes que manifestasse sua opinião acabou surpreendido com a publicação do mesmo no Diário Oficial.
Começou assim a polêmica conhecida como o “contrato da Itabira”, que de prático nada beneficiou a EFVM a menos de arrasta-la em meio à batalha jurídica que prosseguiu até 1927.
O contrato dava diversos privilégios à Itabira Iron, dentre eles o de transportar apenas o minério de ferro de suas jazidas pela futura Itabira Railway, permitir a construção e exploração por 90 anos de um cais no porto de Santa Cruz, dedicado apenas aos produtos de suas empresas, e a isenção de impostos de importação para máquinas e matérias prima por 60 anos.
A EFVM, como a maioria das ferrovias brasileiras, gozava do chamado Privilégio de Zona, que lhe dava a garantia de que a outras ferrovias concorrentes não poderiam ser construídas numa faixa paralela de 20 km para cada lado de suas linhas, a menos que fosse para realizar um entroncamento.
Este privilégio, assim como os pagamentos feitos pelo Governo à Companhia Estrada de Ferro Vitória a Minas pela garantia de juros sobre os empréstimos que haviam sido levantados para a construção da EFVM, tinha como contrapartida a reversão da propriedade da Estrada para a União após um período de 90 anos, salvo a realização de um novo acordo entre as partes.
Com o contrato da Itabira Iron, o  Governo estava permitindo a transferência do Privilégio de Zona da EFVM, que era uma ferrovia privada de caráter público (aberta), para a Itabira Railway, que seria uma ferrovia privada de caráter industrial (fechada), sem nenhuma compensação desta última para com a primeira, já que o contrato dispensava a Itabira Iron de remodelar a EFVM exceto nos trechos onde a linha da Itabira Railway estivesse inserida no da EFVM.
A oposição ao contrato não tardou a surgir, começando pelo próprio Tribunal de Contas da União, que a princípio negou-se registra-lo. Após ameaças do Presidente da República, o Tribunal registrou-se sob protestos, submetendo seu ato à provação do Congresso Nacional.
Com a polêmica se arrastando cada vez mais, Farqhuar tentou ainda um acordo direto com o Governo de Minas, mas este recusou o contrato firmado entre a Itabira Iron e o Governo Federal por considera-lo lesivo aos interesses do Estado.
Nesta época já havia outros grupos estrangeiros interessados no minério de ferro de Minas Gerais, sobretudo na região entre Conselheiro Lafaiete, Sabará e Itabira, para qual os interesses monopolísticos do transporte de minério através do Rio Doce pela Itabira Iron eram bastante indesejáveis.
Com a visita do Rei Alberto da Bélgica ao Brasil em 1920, por exemplo, foram estabelecidas as primeiras negociações entre o Governo de Minas e o poderoso grupo siderúrgico europeu ARBED – Aciéries Réunies de Burbach-Eich-Dudelange.

Como resultado, foi fundada em 1921 a Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira, que deu início à construção de uma pequena usina siderúrgica em Sabará. A Belgo-Mineira também adquiriu diversas jazidas de minério de ferro e extensas fazendas para extração de madeira, a ser usada em sua usina como carvão vegetal.

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