quarta-feira, 12 de abril de 2017

A EFVM E A ITABIRA IRON: SEGUNDA FASE (1919-1939) - PARTE 6

Farqhuar, por sua vez, continuou a ter o apoio do poderoso jornalista Assis Chateaubriand, que chegou a denunciar através de artigos e editoriais que os inimigos da Itabira Iron haviam organizado até mesmo um “lobby de favores sexuais” para influenciar os membros das comissões revisoras, contratando para isto as mulheres mais caras dos bordéis de luxo do Rio de Janeiro.
 Como se não bastasse a burocracia oficial, o clima político conturbado da época também fez com que o trabalho das comissões fosse muito vagaroso, havendo várias longas interrupções devido a Revolução Constitucionalista de 1932, em São Paulo e as eleições e trabalhos da Assembleia Constituinte entre 1933 e 1934.
Finalmente em maio de 1935 o Presidente Getúlio Vargas encaminhou para aprovação pelo Congresso Nacional a nova revisão do projeto, que para desapontamento dos setores mais nacionalistas do Governo, mantinha as principais características do contrato de 1928.
Além dos próprios ingleses, alguns dos mais poderosos grupos siderúrgicos da Alemanha também já manifestavam seu interesse no minério da Itabira Iron, estimulados justamente pelo grande rearmamento patrocinado pelo regime nazista.
Entretanto, quando se falava em investimentos no Brasil, nenhum destes grupos parecia estar disposto a assumir maiores compromissos, não só pela indefinição das concessões da Itabira Iron, mas temendo também que o negocio pudesse ser inviabilizado por um novo conflito.
Mesmo assim Farqhuar manteve vários contatos com Fritz Thyssen – um dos maiores “Barões do Aço” da Alemanha – na tentativa de negociar até mesmo a troca de minério de ferro por material ferroviário, culminando inclusive com uma visita pessoal de Thyssen a Itabira, durante sua breve passagem pelo Brasil em 1935.
Com a tensa situação política mundial, a aproximação de Farqhuar com os grupos siderúrgicos alemães começou a causar sérias preocupações em setores do Governo Americano, temendo, como o próprio Farqhuar reconheceu posteriormente, que o minério do Brasil servisse de matéria prima para a expansão bélica nazista contra os demais países da Europa e os próprios Estados Unidos. 
Enquanto isso no Brasil, a regulamentação do projeto da Itabira Iron ficou engavetada no Congresso Nacional durante todo o ano de 1936, até “morrer de inanição” como diriam alguns deputados no ano seguinte. Por trás desta morosidade, estava mais uma vez a pressão política devido aos interesses econômicos de grupos que se sentiam prejudicados, muitas vezes disfarçados atrás de um ferrenho nacionalismo.
Em meio a todo este clima politicamente desfavorável, Farqhuar deu o primeiro sinal de uma revisão pragmática de seus planos, permitindo que a EFVM celebrasse um notável acordo comercial com a alegada concorrente Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira para financiamento de vagões e locomotivas para a EFVM em troca do abatimento dos fretes de transporte de carvão vegetal até a nova usina siderúrgica em João Monlevade, inaugurada em julho de 1937.
Este acordo marcou o início de um tímido programa de modernização da EFVM, inclusive com a remuneração de quase todas as suas locomotivas, em janeiro de 1937, para agrupar aquelas que possuíam características semelhantes, de modo a facilitar a lotação dos trens de acordo com a sua capacidade.

A influência dos acontecimentos políticos do Brasil na história da EFVM ganhou uma nova fase a partir de 10 de novembro de 1937, quando o Congresso acabou fechado pelo golpe que instituiu o regime ditatorial de inspiração fascista conhecido como Estado Novo, mantendo Getúlio Vargas na Presidência com o apoio dos setores mais nacionalista da burguesia e das forças armadas. 

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